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Mostrando postagens de dezembro, 2025

Às vezes a vida resolve escrever sozinha. A gente só copia.

Eu estava à beira de uma estrada, desses postos de gasolina que parecem existir fora do tempo — nem cidade, nem viagem, só espera. Um Bobs, café ralo, comida triste, barulho de caminhão passando como se fosse o próprio relógio do mundo. Eu ali, sentado, esperando o tempo passar, como quem espera um ônibus que não sabe se chega ou se já passou. Ela estava em São Paulo. Sempre São Paulo. Pensando em lutos. O WhatsApp, esse balcão moderno onde a gente encosta o cotovelo pra conversar sobre tudo e nada, vibrava no bolso como quem pede licença para falar de coisa séria. “Lembra do amigo que te falei…?” Lembrava. Sempre lembramos. A memória tem esse vício de aparecer antes do ponto final. O pai com Parkinson, o avanço, a espera que já é uma forma de despedida. Morreu de madrugada. As mortes gostam desse horário discreto, quando o mundo está dormindo e não pode protestar. Ela escreveu que é estranho. E é. Estranho como até quando a gente espera — e às vezes até torce, com culpa e mi...