Diário de um sedutor de Søren Kierkegaard

  • on 11/10/2009
  •    Søren Aabye Kierkegaard(1813-1855) foi um filosófo e teologo dinamarquês.  Uma obra dele, O Desespero Humano, já foi analisada aqui. Recomendo que dêem uma olhada, até para encontrar uma discrissão mais detalhada do autor e  de sua obra, pois o enfoque agora será diferente. Mesmo tendo recebido uma rígida educação religiosa, na sua juventude Kierkegaard foi um boêmio exemplar, vivendo desregradamente no meio da sociedade de Copenhague da época, de baile em baile. Com essa informação, fica mais fácil entender a construção de Johannes, o dito sedutor do título.


    O livro se passa, excluindo o prologo, por meio do diário de Johannes ou por cartas que trocou com Cordélia, a sua “vítima”. Para um leitor desatento ou simplesmente desinformado o livro parece trabalho de um dandi, à la Oscar Wilde, mas pode ser um estudo sobre Don Giovanni, um trabalho de Mozart, também se encaixa, essencialmente, como parte da dialética de Kierkegaard quanto a divisão da existência em Estádios, sendo esse livro uma representação fidelíssima do Estádio Estético, por último, também mostra muito da vida do autor, inclusive o rompimento do seu noivado com Regine Olsen para se dedicar a metafísica. Acompanhamos como o protagonista vai, meticulosamente, conquistando Cordélia de maneira apaixonada, saboreando cada sorriso, cada certeza confirmada, cada pensamento. Acima do prazer sexual, está o prazer estético, o prazer de respirar, comer, ser as sensações fugazes e impactantes. Usando do pensamento de Sören, o esteta preenche seu vazio de existência de prazer em prazer e no final seu tédio culmina em desespero, a doença mortal kierkegaardiana.


    Trecho do livro:              



    “tal como podemos dizer que era improvável descobrir o rastro desse homem, também podemos afirmar que  não foi ativamente responsável por qualquer das vítimas. a sua vida era excessivamente intelectual para que ele pudesse ser um sedutor, no sentido banal do termo, embora por vezes se  revestisse de um corpo parastático e fosse então, todo ele, sensualidade pura. mesmo na sua aventura com cordélia, tudo foi de tal modo ambíguo que lhe era possível afirmar ser ele o seduzido. sim, e a própria jovem pode ter dito por vezes dúvidas sobre tal questão. também, neste fato, os traços que deixou sua passagem são tão vagos que não é possível descortinar prova alguma. para ele, as pessoas nunca foram senão estímulos, e lançava-os longe de si do mesmo modo que as árvores deixam desmoronar as folhas- ele remoçava, enquanto morria a folhagem.”

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