A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao por Junot Díaz

  • on 09/11/2009
  •   Junot Díaz(1968-) é um escritor e professor de escrita criativa dominicano. A Fantástica Vida Breve foi o seu livro de maior projeção mundial, ganhando o Pulitzer de Ficção em 2008, o John Sargent de 2007 e o National  Book Critics Circle. O livro, que alterna entre a República Dominicana dominada por Rafael Leônidas Trujillo(ditador de extrema direita que tiranizou a ilha de 1939 a 1961) e esse país e os EUA das décadas de 70 a 90, nos conta as desventuras da família Cabral, causadas por um fúku, tradição do povo domo que é uma espécie de maldição.


    A história se passa sempre em primeira pessoa, mas alternando “as vozes”. Ora Lola, irmã de Oscar, ora Yunior, (um dos)namorado desta, em outras, um terceiro narrador que tem uma conexão não esclarecida com a família Cabral. Aliás, a história dessa remonta a uma grande desavença de Abelardo Cabral, avô de Oscar, e o El Jefe, como é caridosamente apelidado Trujillo pelo narrador. Então, o foco se alterna. Começando com a história de Oscar, garoto nerd, dominicano e virgem(usando o pensamento de Yunior para outro personagem, tão estranho quanto um nazista negro), que enfrenta bullying por todos os amigos, inclusive os nerds. Depois, passa-se a Lola, uma garota que se torna rebelde na adolescência, entrando em conflito direto com a mãe. Esta não é deixada de fora, já que Belícia Cabral tem sua juventude exposta, fazendo-nos construir o quadro da garota rejeitada por ser negra, mas que encontra alento por seus seios atraentes. Também sobra espaço para a “grande desavença” de Abelardo Cabral, genial médico dominicano.

      Por mais que a história seja envolvente, o mérito vai para a obra, de página em página, a cada gíria, cada ação, representar um pouco melhor seu país, um dos mais esquecidos da América Latina(nunca tinha ouvido falar do Trujillato dentre as ditaduras de direita implantadas nos países latino e, pela descrição do autor, foi uma tremenda ditadura). Tema os fúkus, aguarde o Mangusto, mas fique de olho no Ladrão de Gado Frustrado… ele adora matar um guapo.

    Trecho do Livro(peguei a cena do assassinato de Trujillo, que mostra bem o estilo):

    "

    Dizem que o Ladrão de Gado Frustrado estava atrás de um rabo de saia naquela noite. É de surpreender? Culocrata inveterado até o fim. Talvez naquela última noite, El Jefe, esparramado no banco raseiro do seu Bel Air, só pensasse na costumeira vagina que o esperava na Estancia Fundación ou talvez não pensasse em nada. Vai saber! Seja como for, um Chevrolet preto foi se aproximando depressa como a Morte em si, repleto até os dentes de sanguinários do mais alto escação, apoiados pelos Estados Unidos. Àquela altura, ambos os carros chegavam aos limites da cidade, onde a iluminação de rua acabava(pois a modernidade tem, de fato, seus limites em Santo Domingo)e, a curta distância, em meio ao breu, estava o pasto em que, 17 meses antes, outros jovens haviam tentado liquidá-lo. El Jefe pediu que o motorista, Zacarías, ligasse o rádio, que foi desligado assim que se constatou a transmissão de um recital de poesia- que apropriado! Talvez os poemas o fizessem lembrar Galíndez. Talvez não[…]

    Apesar dos 27 tiros-que número mais dominicano- e dos 400 pontos de dano, conta-se que Rafael Leônidas Trujillo Molina, mortalmente ferido, ainda deu dois passos em direção ao seu lugar de nascimento, San Cristóbal, pois, como sabemos, todas as criancinhas, boas ou más, acabam encontrando o caminho de casa[…]”

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