Sobre a Visão e as Cores de Arthur Schopenhauer

  • on 22/11/2009
  •  Arthur Schopenhauer(1788-1860) foi um filósofo alemão e um dos maiores representantes da corrente filosófica alemã que contrastava com o racionalismo predominante na Europa à época.A idéia da realidade condicionada a existência do observador e a ánalise desta subjetividade, junto com seu catacterístico pessimismo, são os marcos de sua obra.

    No século XIX, quando o livro foi escrito, havia predomínio das idéias newtonianas. Newton, dois séculos antes, havia elaborado e organizado um conjunto de preceitos que davam as bases da Mecânica e Óptica clássicas. Porém suas idéias foram criticadas por Goethe, na sua Doutrina das Cores, que se torna “mestre” e influenciador de Schopenhauer no campo das cores.

    Ele partia de uma análise fisiológica das cores, postulando que a cor poderia ser física(decorente de fenômenos naturais), química(característica dos corpos) e fisiológica pois é principalmente resultado do “cansaço” causado à retina por sua atividade. Ela ainda apresentaria uma parte qualitativa, ou seja, a fração da atividade da retina usada(violeta 1/4, azul 1/3, verde 1/2, vermelho 1/2, laranja 2/3 e amarelo 3/4)e uma divisão em seis cores(violeta, azul, verde, vermelho, laranja e amarelo) que aumentariam em energia nessa ordem, rumando do preto(a total inatividade da retina) ao branco(a completa atividade) sendo estes dois pontos apenas teóricos pois toda cor apresenta um misto de preto e branco(sendo a representação ideal desta idéia o cinza), postulado muito similar a dualidade taoísta. Também, devido a nossa visão ser formada pela junção da imagem dos dois olhos(para entender melhor, olhe para um mesmo ponto e feche e abra os olhos alternadamente. O ponto vai, aparentemente,se mover), ele afirmava que a visão é uma representação do mundo subordinada a nosso sentidos e que as experiências realizadas pelo newtonianos eram falhas justamente por estar subordinadas aos limites fisiológicos.

    Este livro, por mais que apresente conceitos que soem estranhos para nossa vivência cotidiana e para o atual conhecimento cromático, tem sua importância em mostrar a construção do conhecimento científico pelo debate e ensaios. Pois toda obra tem sua importância, seja para figurar o que é certo ou mesmo o que é absurdo para cada pessoa.

    Trecho do livro:

    O segundo mérito de Goethe é sua excelente obra ter fornecido em larga medida aquilo que o título promete:dados para a doutrina das cores. São dados importantes, completos e significativos, materiais ricos para uma futura teoria da cor.Entretanto, ele próprio não conseguiu elaborar essa teoria: por isso, como ele observou, e confessou na página XXXIX da Introdução, não deu nenhuma explicação verdadeira acerca da essência da cor, postulando-a na realidade, como fenômeno e ensinando apenas como ela surge e não o que ela é.As cores fisiológicas, que são o meu ponto de partida, ele apresenta como fenômeno fechado e existente por si, sem nem sequer tentar relacioná-lo com as cores físicas, seu tema principal.

    A teoria, quando não devidamente apoiada e fundamentada em fatos, não passa de uma quimera vazia e vaidosa, e mesmo aquela experiência única, desconexa, mas verdadeira, tem muito mais valor do que esta. Por outro lado, todos os fatos isolados formam a partir de um determinado raio de área da experiência, mesmo estando completamente integrados, menos uma ciência do que o conjuntode conhecimentos de sua essência íntima, unidos sob um conceito comum que abrange e contém tudo o que se pode encontrar neles, ao qual além disso subordinam-se outros conceitos, através de cuja intermediação se pode chegar logo ao conhecimento e à determinação de cada fato isolado. A ciência assim completa é comparável a um Estado organizado, cujo soberano pode acionar a qualquer momento o todo, cada parte maior e também a menor. Por isso, aquele que está sob domínio da ciência, da verdadeira teoria de uma coisa, colaca-se contra aquele que adquiriu apenas um conhecimento empírico, desorganizado, ainda que muito propagado, como um povo vigiado e organizado num reino contrapõe-se a um povo selvagem.”

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    4 Recados:

    Djan Krystlonc disse...

    Shopenhauer!? Pegou pesadíssimo.

    Se um dia as idéias de Newton se espalharam para fora da física e contaminaram a visão do mundo de toda uma sociedade, hoje vivemos exatamente a mesma coisa com o relativismo e superamos (ou não) um acontecimento similar com o darwinismo.

    Cada macaco em seu galho.

    Arouca disse...

    Pessoalmente, eu gosto dessa interação entre áreas, até porque naquela época, com a facilidade dos experimentos, dava para um filósofo "brincar" de ser físico. Dificilmente o Schopenhauer ia se arriscar com um LHC ou LINEAC hoje.

    Arouca disse...

    um Schopenhauer*

    Anônimo disse...

    Realmente é bacana essa interação de ideias e Schopenhauer se saiu muito bem, a parada os intervalos de cinza que a mistura de preto e branco serem apenas uma frequência percebida por nossa retina é brilhante, um amigo meu fez um trabalho acadêmico sobre isso ... parecia absurdo na época, hoje não mais ...