Lolita de Vladmir Nabokov

  • on 26/12/2009

  • Vladimir Vladimirovich Nabokov(1899-1977) foi um escritor e professor russo. Fugindo da revolução comunista em 1919, posteriormente da Alemanha, viveu boa parte da sua vida na Inglaterra e França, se formando na Universidade de Cambridge. Em 1940, fugindo do exercito alemão na França, vai para os EUA, onde começa a dar aulas de literatura e escreve seu romance mais famoso, Lolita. Acho importante ressaltar esses dados porque, como o próprio autor fala, seus livros feitos em inglês são a parte menos russa da literatura russa com que já tive contato.
    Inclusive, uma das características mais perceptíveis de Lolita é a erudição, por vezes enfadonha, do protagonista Humbert Humbert, erudição esta subordinada a autores europeus, mostrando um personagem de formação essencialmente centro-européia. Mas se tem um ponto em que Nabokov consegue ser russo e com muito primor é a criação de personagens profundos e densos. Humbert, o apaixonado pedófilo que vive no meio de explosões de emoção muito bem disfarçadas sobre sua crosta calma, Lolita, no livro inteiro, não se sabe se a personagem seduzida ou sedutora, criança com infância destruída mas que atormenta e abusa de Humbert, Quilty, o depravado sexual, que vive em meio a opulência e aos vícios, Charlotte, a típica mãe tradicional americana, repressiva e sonhadora, retrata com um sarcasmo cáustico por Nabokov.
    Alias, o sarcasmo é um dos recursos mais usados nesse livro. Por meio dele e do enredo em si, ele crítica de maneira simultaneamente brutal e calma, a exaltação da psicologia, dos bons costumes, da erudição exagerada e dos valores de sua época por uma insípida classe média(é o termo mais acertado que consegui) que era sua contemporânea. Outro grande mérito do livro? O domínio da língua inglesa pelo autor, que consegue pintar cenários com a mesma aquarela usada para sentimentos, situações e pessoas, fazendo deste livro um excelente quadro. Não um quadro com fins de conhecer uma época, mas, como ele mesmo ressalto, uma tentativa de fazer uma obra de arte no meio de didatismos. E ao ler esta obra, nos deparamos com um livro intenso, interessante e belo e que, o melhor, para mim, nos faz sorrir com malícia em algumas partes.
    Trecho do livro:


    perseguiria pelo resto da vida. Se estivéssemos em 1447, e não em 1947, quem sabe eu teria tapeado minha natureza pacífica e lhe administrado algum veneno clássico, guardado num anel de ágata, ou algum filtro de efeito lento e fatal. Mas em nosso era pequeno-burguesa e intrometida, a coisa não teria se passado como nos suntuosos palácios de outrora. Nos dias de hoje, para ser um assassino é preciso ser antes um cientista. Não, não, eu não era nem uma coisa nem outra. Senhoras e senhores membros do júri, quase todos os pervertidos sexuais que anseiam por uma latejante relação com alguma menininha(sem dúvida pontuada de termos gemidos, mas não chegando necessariamente ao coito) são seres inofensivos, inadequados, passivos e tímidos, que apenas pedem à comunidade que lhes permita entregar-se ao seu comportamento supostamente aberrante mas praticamente inócuo, que lhes deixe executar seus pequenos, úmidos e sombrios atos privados de desvio sexual sem que a polícia e a sociedade os persiga. Não somos tarados! Não cometemos estupros, como fazem muitos bravos guerreiros! Somos seres infelizes, meigos, de olhar canino, suficientemente bem integrados para saber controlar nossos impulsos na presença de adultos, mas prontos a trocar anos e anos de vida pela possibilidade de acariciar uma ninfeta. Positivamente, não somos assassinos, os poetas nunca matam.”



    Se a pegasse pelos pés que batiam com força na água; se ainda assim fosse até o fim da provação, seu fantasma me 
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