A luta de um homem simples para cumprir a promessa feita para salvar seu animal de estimação. Essa é a tônica de uma das mais conceituadas obras da dramaturgia brasileira: “O Pagador de promessas”.
Escrita em 1959, o texto de Dias Gomes foi encenado pela primeira em 1960. Dois anos mais tarde, sua versão cinematográfica – sob direção de Anselmo Duarte – seria consagrada com a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
No ano de 1988 a peça ganhou uma adaptação televisiva feita pelo próprio Dias Gomes - sob a forma de minissérie – com direção de Tizuka Yamazaki e protagonizada por José Mayer.
Em O pagador de promessas, Dias Gomes faz uma exaltação ao estereótipo do brasileiro: Humilde, simplório, resignado, incapaz de fazer mal até mesmo aos seus inimigos e que ao se ver diante de um problema insolúvel recorre ao auxílio das divindades, sendo por elas atendido como recompensa por sua nobre conduta.
Zé do burro, o protagonista, é a metamorfose do cidadão comum no mito do herói.
A peça pode também ser considerada uma crítica às instituições dominantes que estão preocupadas apenas com sua autoimagem e trabalhando para benefício próprio. Consequentemente, isso acaba gerando uma sociedade dependente, corrupta e egoísta. É contra tudo isso que luta nosso “herói regional”.
Dias Gomes conhecia bem seu público. Entendia como poucos o psicológico de nosso povo. Ele nos oferece exatamente aquilo que todo membro de uma sociedade com baixa estima, explorada e desesperada deseja: O sujeito sem defeitos, incorruptível, que representa todo o nosso povo. Ele transforma cada um de nós em heróis. Porém, heróis solitários não conseguem vencer... No máximo viram mártires! Por isso é necessário que se mudem as estruturas! De outra forma, vamos sempre estar tentando nos enganar procurando falsos “Zés do Burro”: Indivíduos que se travestem de verdadeiros heróis regionais e se apresentam como pessoas que em caso de adversidades intransponíveis serão miraculosamente ajudadas pelas divindades; mas que na verdade seu único desejo é conseguir se beneficiar e dar continuidade ao funcionamento das corrompidas engrenagens sociais. A situação só mudará quando o número de verdadeiros “Zés do Burro” for superior ao daqueles (ou daquilo) contra os quais (ou o que ) lutamos.
Enquanto ficarmos procurando heróis capazes de nos salvar, seremos eternos pagadores de promessas.
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