Palavra não é tudo - Crítica da peça "No Buraco"

  • on 23/04/2010

  • Três atores representando histórias através de mímica, parcialmente tapados por um biombo.  Na verdade três “meios” atores, uma vez que só é possível vê-los da cintura para cima.  Assim pode ser definido o espetáculo “No Buraco” em cartaz no Teatro do Leblon. 

    A peça faz parte do repertório da companhia “Centro Teatral Etc e Tal”, que desde  1993 desenvolve um trabalho de humor teatral através da mímica.

     A apresentação é composta por cinco esquetes cômicos, onde os atores não dão uma palavra o tempo inteiro. A voz - assim como a música - é inserida apenas para compor a sonoplastia e criar efeitos. Toda a comunicação se dá no âmbito das expressões faciais e corporais.
      Se num primeiro momento o biombo pode causar algum desconforto e sugerir uma barreira física entre atores e plateia; com o desenrolar do espetáculo o que podemos notar é exatamente o contrário: A relação de comunicação atores-público se dá de uma forma tão eficaz, que é como se ele não existisse. Apesar de não ser um espetáculo interativo onde o público é intimado a participar e subir no palco, seria mentiroso dizer que os presentes no teatro assistem tudo passivamente. Mais do que reagir às piadas e às situações apresentadas, o público acaba também construindo seu próprio espetáculo. Ele acaba sendo induzido a projetar sua imaginação para complementar a parte oculta da cena.  Isso faz com que o espetáculo tenha uma caráter único e pessoal para cada espectador. É como se cada pessoa fosse coautora da cena que não está acabada no palco... sua finalização efetiva se dá na mente de cada indivíduo.  Nesse sentido,  Alvaro Assad (também preparador do elenco e diretor do espetáculo);  Marcio Moura e Melissa Teles-Lôbo realizam um trabalho digno de elogios. 

    Como em quase todo espetáculo de humor, em alguns (poucos) momentos os atores acabam recorrendo a alguns clichês. Isso não chega a ser um demérito, uma vez que a proposta é divertir o público, que não economiza nas risadas para tudo que é apresentado.   

    De todos os quadros, indiscutivelmente o que mais agrada é o dos patinhos de tiro ao alvo no parque de diversão.  Parodoxalmente, este também constitui-se como o de enredo mais simples;  porém é o que exige maior domínio técnico dos atores e o mais impactante.  

    A  luz de Aurélio Oliosi e a trilha de Rodrigo Lima em perfeita sintonia com a estética da peça ajudam a compor o clima.  A ressalva fica por conta dos slides projetados nas transições entre as histórias: Apesar da excelente ideia, alguns deles parecem pequenos demais para preencher o palco inteiro nos momentos em que nada acontece. Uma ou outra projeção acaba demorando um tempo um pouco maior do que o necessário... Claro que é preciso tempo para que as trocas de figurino (algumas delas praticamente instantâneas) sejam realizadas, mas mesmo assim o ritmo acaba sofrendo um leve prejuízo. 

    Se um gesto vale mais do que mil palavras, uma peça de mímica com humor pode acabar sendo mais divertida do que uma dezena de stand ups em cartaz.



     NO BURACO
              Local:
    Teatro do Leblon 

    Avenida Conde Bernadotte, 26 
    Leblon
     - Zona Sul - (21) 2274-3536
    Preço(s):
    R$ 40,00.
    Data(s):
    Até 28 de abril de 2010.
    Horário(s):
    Terça e quarta, 21h.

    Site do grupo: www.etcetal.art.br
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