Coleção "Os Pensadores" de Diderot

  • on 20/03/2010
  • Denis Diderot(1713-1784) foi um filosofo e escritor francês. Um dos grandes nomes do iluminismo francês, também foi um dos idealizadores e principais redatores da Encyclopédie. Também escreveu várias peças teatrais e vários dos seus trabalhos mais famosos são sobre a importância da arte, sobretudo do teatro. Antes de partir para a analise do livro, quero explicar um pouco sobre do que se trata. A coleção "Os Pensadores" era primeiramente uma publicação da editora Abril, conhecida até hoje por suas coleções sobre diversos assuntos, e que apresentava aproximadamente 50 fascículos. Eu mesmo já tinha ouvido falar da coleção e quando achei essa edição numa livraria fiquei curioso e comprei. Posteriormente vi que na verdade essa era uma outra edição, mais nova, feita pela Nova Cultural que apresentava menos autores e tinha uma qualidade inferior a anterior e isso se reflete nessa edição, sem introdução ao autor, ao movimento a que ele pertence e que apresenta apenas alguns de seus trabalhos.


    O livro apresenta seis diálogo e um pequeno texto no final. Os contos são: O Sobrinho de Rameau onde o autor discute a questão da vida estética e da vida virtuosa opondo Rameau, um músico malandro e falido, a ele, representante da virtude; Diálogo entre D'Alembert e Diderot, O Sonho de D'Alembert e Continuação do Diálogo são três diálogos sequências e complementares onde se é discutido o homem como ser vivo, resultante de processos químicos e biológicos e sua interação com a natureza, além de uma pequena discussão sobre ciência; Suplemento à Viagem de Bougainville ou Diálogo entre A e B é a discussão entre dois personagens sobre A Viagem de Bougainville, fazendo reflexões sobre direito civil e ética pela comparação dos europeus com os habitantes do Taiti local visitado por Bougainville e que lhe rendeu o livro; Paradoxo sobre o Comediante é uma discussão muito interessante sobre a arte teatral, falando sobre a escrita de peças mas se focando nos atores; e finalmente Dos Autores e Críticos é um pequeno texto no final do livro em que o autor ironiza os críticos de arte da época.

    O que se pode concluir de Diderot é que ele foi um dos mais interessantes autores iluministas justamente por criticar muitas das ideologias da época. O modo como ele ironiza as instituições e o próprio direito civil, contrapondo-o ao direito natural(de modo bem mais profundo que Rousseau) dos taitianos o colocando como algo que só interessa aos soberanos e não aos súditos, além da Igreja, o missionário católico tem relações sexuais com as três filhas além da esposa do chefe da aldeia taitiano, fez com que muitos o colocassem como o precursor do anarquismo. Além disso, os diálogos sobre teatro e ciência são muito interessantes.

    Trecho do livro:
    "A-Mas como é que aconteceu que um ato cujo alvo é tão solene e ao qual a natureza nos convida pela atração mais poderosa; que o maior, o mais doce e o mais inocente dos prazeres viesse a converter-se na fonte mais fecunda de nossa depravação e de nossos males?
    B- Oru deu a entender dez vezes ao capelão; ouvi-o pois outra vez e procurai retê-lo.
    É pela tirania do homem, que converteu a posse da mulher em propriedade.
    Pelos costumes e pelos usos, que sobrecarregaram de condições a união conjugal.
    Pelas leis civis, que sujeitaram o casamento a uma infinidade de formalidades.
    Pela natureza de nossa sociedade, onde a diversidade das fortunas e das posições instituiu conveniências e inconveniências."
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